terça-feira, 15 de julho de 2008

1824 - Confederação do Equador

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário, de caráter emancipacionista e republicano, ocorrido em 1824 no Nordeste do Brasil.

Foi a principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora do governo de D. Pedro I (1822-1831), esboçadas na Carta Outorgada de 1824, a primeira Constituição do país.

O centro irradiador e a liderança da revolta couberam à então Província de Pernambuco, que já havia se rebelado em 1817 (ver Revolução Pernambucana de 1817) e que enfrentava dificuldades econômicas. Além da crise, a província se ressentia ao pagar elevadas taxas para o Império, que justificava essas taxas como necessárias para levar adiante as guerras provinciais pós-independência (algumas províncias resistiam à separação de Portugal).

Pernambuco esperava que a primeira constituição do Império seria do tipo federalista, e daria autonomia para as províncias resolveram suas questões. No entanto, Dom Pedro dissolveu a assembléia constituinte em 1823 e outorgou uma constituição no ano seguinte, extremamente centralizadora. O gérmen da revolta se plantou, e os jornais - notadamente o Tífis Pernambucano, dirigido pelo Frei Caneca - criticavam dura e abertamente o governo imperial. Vários ex-revoltosos, anistiados em 1821, novamente conspiravam.

Em julho de 1824 a revolta estourou no Recife. O estopim fora a prisão de Manuel de Carvalho Pais de Andrade, que fora eleito chefe provisório de uma junta de governo. Pais de Andrade se recusou a empossar o governador enviado por Dom Pedro I; o imperador, após estourar a revolta, tentou conciliar-se com os pernambucanos, trocando o nome do governador nomeado, mas não adiantou.

Os revoltosos enviaram emissários para as demais províncias do Nordeste (então Norte) do país. Conseguiram apoio do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Formou-se assim a Confederação do Equador propriamente dita, que pretendia organizar um país independente do Brasil — embora essa não fosse a intenção de muitos dos revoltosos.

Surgiram algumas dissidências internas no movimento, pois ele agregava classes sociais díspares. A proposta de Pais de Andrade no sentido de libertar os escravos e o exemplo haitiano (país que recentemente se libertara do domínio francês através de uma revolta popular) não tranqüilizavam as elites, e alguns proprietários de terras passaram a colaborar com o governo imperial.

Dom Pedro I enviou para o Nordeste tropas contratadas no exterior, sob o comando de Thomas Cochrane. Em Setembro, caíram três províncias, só restando o Ceará, que não suportou além de Novembro. Alguns líderes confederados, resistiram no Sertão, até Dezembro.

Vários rebeldes foram condenados por um tribunal militar à forca. Um fato interessante que passou para a história (embora seja discutível) foi a recusa dos carrascos em executar o Frei Caneca, mentor intelectual da revolta e uma das figuras mais carismáticas do Recife à época, que se escondeu por alguns dias no município de Abreu e Lima a época "Vila de Maricota" antes de fugir para o Ceará. O religioso acabou sendo fuzilado, ao contrário da sentença inicial que previa o enforcamento.

1822 - Guerra da Independência do Brasil


Guerra da Independência do Brasil


A chamada Guerra da Independência estendeu-se de 1822 a 1823, no contexto do processo de Independência do Brasil, entre 1808 e 1825, quando esta foi formalmente reconhecida por Portugal e pela Grã-Bretanha.

Após a proclamação da independência, às margens do riacho Ipiranga, na então Província de São Paulo, a 7 de Setembro de 1822, as lutas para afirmá-la foram mais encarniçadas nas regiões onde, por razões estratégicas, se registrava maior concentração de tropas do Exército português, a saber, nas então Províncias Cisplatina, da Bahia, do Piauí, do Maranhão e do Grão-Pará.

Recorde-se que a maior parte da oficialidade era de origem portuguesa, enquanto que o grosso da tropa, no Brasil, era brasileira ou luso-descendente.

Desse modo, o governo brasileiro, através do Ministro José Bonifácio de Andrade e Silva, adotou as providências para eliminar a resistência portuguesa. Para esse fim providenciou a compra de armas e navios, o recrutamento de tropas nacionais e o contrato de estrangeiros (mercenários), bem como medidas repressivas como o confisco de bens e a expulsão daqueles que não aceitassem a emancipação política do Brasil. No plano econômico, proibiu-se o comércio, e, no diplomático, autorizou-se a guerra de corso, contra Portugal.


Quadro Independência ou Morte mais conhecido com "O Grito do Ipiranga" de Pedro Américo (óleo sobre tela - 1888)


A campanha na Cisplatina



Na Província Cisplatina, a campanha foi marcada pelo bloqueio a Montevidéu, sob o comando de Carlos Frederico Lecor, barão da Laguna. Isoladas, as tropas do Exército português foram obrigadas a abandonar o território brasileiro.

A campanha na Província da Bahia


Na Província da Bahia, a área tradicionalmente produtora de açúcar e de tabaco do Recôncavo, dominada pelos grandes latifundiários escravistas, desde cedo se manifestara pela causa brasileira, sob a liderança da vila de Cachoeira. A capital da Província, Salvador, então ocupada pelas tropas do Exército português sob o comando de Inácio Madeira de Melo, mantinha os laços com a Metrópole.

Com a divulgação da notícia da proclamação da Independência, as vilas do Recôncavo baiano, sob a liderança da vila de Cachoeira, em cuja Câmara Municipal se instalou um governo interino, mobilizaram-se para expulsar as tropas portuguesas entrincheiradas em Salvador, reforçadas desde os acontecimentos que haviam culminado no Dia do Fico (9 de Janeiro de 1822). Esse processo de reforço de tropas foi marcado por diversos incidentes em Salvador, entre os quais o assassinato, por soldados portugueses, da abadessa do Convento da Lapa, Sóror Joana Angélica de Jesus (19 de Fevereiro).

Para apoiar e reforçar a ação brasileira na região, o governo brasileiro despachou, da Corte, alguns navios sob o comando de Rodrigo de Lamare, conduzindo tropas e suprimentos, inclusive um oficial experimentado nas campanhas napoleônicas, Pedro Labatut. Este efetivo desembarcou em Maceió, nas Alagoas, de onde seguiu, por terra, para a Bahia. Durante a marcha, o contingente foi reforçado por efetivos vindos de Pernambuco, do Rio de Janeiro e do amplo voluntariado que se abrira no Recôncavo.

Entre esses voluntários destacaram-se nomes como os de Maria Quitéria, no Batalhão dos Periquitos, criado pelo avô do poeta Castro Alves - José Antônio da Silva Castro -, assim denominado pelo predomínio da cor verde em sua farda.

De Portugal, foram enviados 2.500 homens para reforçar as tropas de Madeira de Melo. A este efetivo juntaram-se elementos da Divisão Auxiliadora, que se retirava do Rio de Janeiro.

As vitórias brasileiras nas batalhas de Cabrito e de Pirajá (8 de Novembro de 1822), bem como o fracasso na tentativa portuguesa de ocupação da ilha de Itaparica (7 de Janeiro de 1823), tornaram cada vez mais difícil o sustento da posição por parte do Exército português. Diante do bloqueio naval de Salvador, imposto pela esquadra imperial sob o comando de Lord Thomas Cochrane, complementado pelo bloqueio terrestre, que conjugados, impediam o suprimento do efetivo luso, Madeira de Melo foi forçado a capitular, abandonando a cidade (2 de Julho), então ocupada pelas tropas brasileiras. Na ocasião foram aprisionadas várias embarcações de bandeira portuguesa, e os demais perseguidos até à s proximidades de Lisboa.

A campanha no Piauí / Maranhão


Na então Província do Piauí, tradicional produtora de gado, a burguesia comercial e mesmo os proprietários de terras, estavam ligados à Metrópole, inclusive por laços de sangue. Aqui, a adesão à Independência do Brasil foi proclamada na vila de Parnaíba. O interior e a capital, Oeiras, permaneceram sob o controle de tropas do Exército português sob o comando de João Fidié. Mesmo diante do recebimento de reforços vindos da então Província do Ceará, as tropas brasileiras foram inicialmente derrotadas na batalha de Jenipapo (1823). Outras localidades, entretanto, manifestaram a sua adesão à Independência, alcançando a vitória quando Fidié se deslocou para apoiar a resistência portuguesa na vila de Caxias, no Maranhão.

Também na Província do Maranhão, as elites agrícolas e pecuaristas se ligavam à Metrópole. Foi da Junta Governativa da Capital, São Luís, que partiu a iniciativa da repressão ao movimento da Independência no Piauí. Controlava ainda a região produtora do vale do rio Itapicuru, onde o principal centro era a vila de Caxias. Esta foi a localidade escolhida por Fidié para se fortificar após a vitória em Jenipapo, no Piauí, e onde veio a ser cercado pelas tropas brasileiras, compostas por contingentes oriundos do Maranhão, do Piauí e do Ceará, vindo a capitular. São Luís, bloqueada por mar pela esquadra de Lord Thomas Cochrane, foi obrigada a aceitar a Independência.

A campanha no Pará


Na então Província do Grão-Pará, a burguesia comercial e os proprietários de terra também se encontravam profundamente ligados à Metrópole. Aqui, John Grenfell, subordinado a Lord Cochrane, impôs a aceitação da Independência também recorrendo ao bloqueio naval, sob ameaça de bombardear a Capital, Belém (15 de Agosto). Tendo sido eleita uma Junta Governativa (17 de Agosto), explodiu uma violenta reação popular, que obrigou Greenfell a desembarcar tropas e efetuar prisões em massa, visando restabelecer a ordem pública. A 19 de Agosto, sem que houvessem cárceres suficientes em terra, a pedido da Junta, Greenfell autorizou encerrar nos porões do brigue São José Diligente (depois Palhaço), duzentos e cinqüenta e sete detidos, onde todos, menos um (duzentos e cinquenta e seis, menos quatro, em outras fontes) morreram asfixiados.

Embora posteriormente Grenfell tenha se defendido argumentando não ter ordenado o massacre, também nada fez para responsabilizar ou punir os responsáveis.

Os combates da Guerra da Independência serviram como batismo de fogo para o jovem Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias.

1821 - Independência da Bahia

Independência da Bahia


A Independência da Bahia foi um movimento que iniciou-se ainda em 1821 e teve seu desfecho ao 2 de julho de 1823, motivado pelo sentimento federalista emancipador de seu povo, e que terminou pela inserção na formação da unidade nacional brasileira, durante a Guerra da independência do Brasil.

Agitações na Bahia
Sementes da Luta

Da Conjuração Baiana de 1799 em diante, pode-se afirmar que nesta província, mais até que em Minas Gerais, estava arraigado na gente do povo o sentimento de independência em relação a Portugal. Em Minas o conciliábulo se deu entre as famílias gradas, ao passo que na Bahia gente humilde dela participara ativamente, colando cartazes nas ruas concitando o apoio de todos.

A "Revolução do Porto", em Portugal, no ano de 1820, teve enorme repercussão na Bahia, onde grande era a população daquela região.

Em fevereiro de 1821 uma conspiração de cunho constitucionalista eclode em Salvador. Dela participaram Cipriano Barata, José Pedro de Alcântara, o Capitão João Ribeiro Neves e outros. Preso o comandante, soltos soldados que estavam presos, foi lida uma proclamação que dizia:


"Os nossos irmãos europeus derrotaram o despotismo em Portugal e restabeleceram a boa ordem da nação portuguesa (...) Soldados! A Bahia é nossa pátria e nós não somos menos valorosos que os Cabreiras e Sepúlvedas! Nós somos os salvadores do nosso país; a demora é prejudicial, o despotismo e a traição do Rio de Janeiro maquinam contra nós, não devemos consentir que o Brasil fique nos ferros da escravidão." E conclui: "Viva a constituição e cortes na Bahia e Brasil - Viva El-Rei D. João VI nosso soberano pela constituição. Marcha."
Queriam, como em Portugal, uma constituição que limitasse o poder real. Habilmente, alguns foram adrede convencidos de que a verdadeira luta deveria ser pela manutenção do rei no Brasil, entre eles o futuro Marquês de Barbacena, então Marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes que, apesar de brasileiro, comandou a reação do governo, junto ao então coronel Madeira de Melo. Lutas ocorrem, e os revoltosos conquistam a vitória, sendo aclamado ao povo, na Praça da Câmara, o novo estado de coisas. O Governador, Conde da Palma, vai à Câmara e renuncia.

Neste primeiro momento portugueses e brasileiros estavam unidos, e constituíram uma Junta Governativa. Mas a situação não iria durar.

Portugueses x Brasileiros

Com a volta de D. João VI a Portugal, ficando o Regente Pedro no Rio de Janeiro, que uma carta mandava voltar a Portugal, demonstraram claramente aos brasileiros que a antiga metrópole não aceitaria a condição de Reino Unido Brasil e Portugal. Nas tropas, antes unidas no sentimento constitucionalista, a cisão entre portugueses e brasileiros foi-se acentuando. Os ódios foram sendo acirrados, resultando em muitos conflitos parciais e boatos que em 12 de julho de 1821 fizeram os portugueses se reunir no quartel para a defesa de possível ataque dos brasileiros, a quem menosprezavam.

A 12 de novembro de 21 os soldados portugueses saíram pelas ruas de Salvador, atacando os soldados brasileiros, num confronto corporal na Praça da Piedade, com feridos e mortos.

A população temerosa iniciara um êxodo paulatino para os sítios do Recôncavo. O ano termina com as tensões em alta.

A 31 de janeiro de 22 uma nova Junta é eleita e a 11 de fevereiro chega a notícia da nomeação do Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo como Comandante das Armas da província. Madeira de Melo era o mesmo coronel que apoiara o Conde da Palma, um ano antes. A ordem desta nomeação chega quatro dias depois. Os baianos tinham um comandante que já se declarara contrário aos seus ideais...

Resistência a Madeira de Melo - a Primeira Mártir do Brasil



Formados, na Bahia, os três partidos que seriam o combustível da luta (partidários da colônia; constitucionalistas do Brasil em igualdade de condições e, finalmente, os republicanos - o primeiro exclusivamente de portugueses; o segundo com ambos os povos; o terceiro, quase exclusivo dos brasileiros).

No comando das Armas estava o brigadeiro Manoel Pedro, que fortalecera os nativos já pensando numa refrega. Sua destituição e nomeação de Madeira de Melo foi duro golpe no partido nacional.

A posse de Madeira de Melo foi obstada pelos naturais, alegando ausência de pequenas formalidades - o povo passou a defender o nome de Manoel Pedro. O comandante português busca apoio junto aos comerciantes patrícios, além da Infantaria (12º), da Cavalaria e dos marinheiros. Os baianos contavam com a Legião de Caçadores, a Artilharia e o 1º de Infantaria.

A 18 de fevereiro de 22 reúne-se um conselho de vereadores, juízes e Junta Governativa para dirimir a questão da posse. Como solução foi proposta uma junta militar, sob a presidência de Madeira de Melo. Na prática, era sua vitória sobre os interesses contrários.

As tropas portuguesas estavam de prontidão desde o dia 16, enquanto os marinheiros percorriam as ruas, fazendo provocações - Madeira de Melo fizera constar que, ocorrendo qualquer ameaça à constituição, agiria sem consultar a Junta Militar. Vitorioso, desfila pelas ruas, inspecionando as fortificações, e desafiando as guarnições de maioria nacional. Na madrugada do dia 19 ocorrem os primeiros tiros, no forte de São Pedro, para onde acorrem as tropas portuguesas, vindas do Forte de São Bento. Salvador transforma-se numa praça de guerra, e confrontos violentos ocorrem nas Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora.

Apesar da brava defesa, tomam os portugueses o quartel onde se reunia o batalhão 1º da Infantaria. Os marujos lusitanos festejam, desenfreadamente: atacam casas, pessoas e, num gesto covarde, invadem o Convento da Lapa, assassinando sua abadessa, Sóror Joana Angélica.

Fizera-se assim a primeira mártir de uma luta que apenas se iniciava, e que somente ao preço de muito sangue terminaria no 2 de Julho de 23...

Restava tomar o Forte de São Pedro, e Madeira de Melo prepara-se para bombardear a fortaleza - uma das poucas inteiramente em terra, no centro da cidade. No cerco, são atacados nos lados do Garcia. No dia seguinte, o forte se rende, evitando-se mais derramamento de sangue. O Brigadeiro Manoel Pedro é preso e enviado a Lisboa.

No poder, o "Partido português" atemoriza os brasileiros. A 2 de março Madeira de Melo finalmente presta juramento perante a Câmara de Vereadores.

A Guerra

Julho - 1822 - A Bahia conflagrada
Os nativistas ainda morando na capital reagem com pedradas à s ações militares de Madeira de Melo e, na procissão de S. José (21 de março de 1822), os “europeus” foram apedrejados. Madeira de Melo escreveu:


”Então viu-se nesta cidade reunir-se uma multidão de negros a fazer depósitos de pedras em alguns lugares muito públicos, como o Largo do Teatro e ruas adjacentes; tomaram suas posições e logo que apareceu uma procissão que era feita por naturais da Europa, atiraram sobre ela uma infinidade de pedradas (...) Chegada a noite, reuniram-se grandes magotes em diferentes sítios e apedrejaram todos os soldados e mais pessoas que viram ser Europeus (...)”
Respondia pelos interesses dos baianos um jornal, o “Constitucional”, de Francisco Corte Imperial e Francisco Gê Acaiaba de Montezuma (nome adotado, já naquele tempo, e que veio a compor nosso primeiro governo durante as lutas), que dava ampla vazão aos sentimentos da maioria do povo.

A cidade de Salvador assistia à debandada cada dia maior dos moradores, que somente aumentou com a chegada de reforços a Madeira: um navio, dos que levavam tropas do Rio de Janeiro de volta a Portugal, aportou na capital, ali deixando seus soldados.

Consulta às Câmaras



Os deputados baianos na Corte, em Portugal (dentre os quais Pinto da França que chegou a ser enviado por D. João VI para negociar com Madeira de Melo - chegando após o desfecho do conflito), escreveram, perguntando qual a opinião das municipalidades sobre qual a relação da Bahia com a metrópole. Tomando a frente, as vilas de Cachoeira e São Francisco, seguidas pelas demais, manifestam-se favoráveis a que a Bahia passasse para a regência de D. Pedro, no Rio. Havia, por trás destas declarações, nítida vontade de separação de Portugal, a quem já tinham como a figura opressora.

Uma escuna militar é mandada por Madeira para Cachoeira. A vila organiza uma comemoração, com um desfile da cavalaria que marcha pelas ruas, a 25 de junho: a Câmara e o povo aclamam D. Pedro como regente. É celebrado uma missa e, quando o povo desfila, é alvejado por tiros, vindos da casa de um português e da escuna estacionada ao largo. O tiroteio segue por toda a noite e no dia seguinte.

Em Cachoeira constitui-se a “Junta de Defesa”



Reunem-se os partidários “brasileiros” e proclamam uma Junta Conciliatória e de Defesa, para governo da cidade, em sessão permanente, recebendo a adesão de muitos portugueses. Foi constituída uma caixa militar e instaram ao comandante da escuna para que cessasse o ataque, obtendo como resposta uma ameaça.

O povo reage, tem lugar o primeiro combate, pela tomada da embarcação que, cercada por terra e água, resiste até a captura e prisão dos sobreviventes (28 de junho). As vilas do Recôncavo vão aos poucos aderindo a Cachoeira. Salvador torna-se alvo de maiores opressões de Madeira de Melo, e o êxodo ganha intensidade.

As municipalidades se organizam para um combate, treinando tropas, erguendo trincheiras. Pelo sertão vinham as adesões. Posições estratégicas são tomadas nas ilhas, em Pirajá e Cabrito. As hostilidades têm começo e suas notícias se espalham pela Província e pelo restante do país. Itaparica já aderira. Para lá manda Madeira de Melo uma expedição, que chega atirando. O povo foge, engrossando as hostes do recôncavo.

Em Cachoeira é organizado um novo Governo, para comandar a resistência, a 22 de setembro de 1822, sob a presidência de Miguel Calmon do Pin e Almeida, futuro Marquês de Abrantes.

Todos estes movimentos são noticiados ao Imperador. De Portugal 750 soldados são enviados como reforço para a manutenção da Bahia sob o seu domínio que chega em agosto, junto com um reforço enviado pelo Rio, sob o comando do General Labatut – uma tropa formada quase toda por portugueses – já que não existia um exército nacional. Seu desembarque foi obstado na Bahia, indo aportar em Maceió – Alagoas, de onde veio, por terra – conseguindo assim arregimentar mais elementos ao fraco contingente.



As batalhas
Diversas batalhas foram travadas, levando o nome dos lugares onde os combates ocorreram.

Pirajá
Tendo recebido reforços, Madeira de Melo desferiu um grande golpe contra as tropas brasileiras em Pirajá, conduzindo suas forças para a Estradas das Boiadas (queira ver: Liberdade (Salvador)). Assim registrou Tobias Monteiro, em "A elaboração da independência":

A luta foi tremenda, a resistência heróica; mas após quase cinco horas de refregas, acudindo reforços chegados da cidade e para não ver o exército bipartido, os independentes estavam ao ponto de recuar e escolher na retaguarda melhor ponto de defesa.
Já galgavam os atacantes as encostas dos montes, certos de levar de vencida o inimigo, quando ouviram o toque sinistro de avançar cavalaria e degolar. O corneta, a quem o major Barros Falcão, que comandava a ação naquele ponto, dera ordem de tocar retirada, trocara, por conta própria, o toque destinado a anunciar a derrota dos irmãos de armas, pelo do ataque inesperado, donde veio a desordem e o pânico dos portugueses. (vide nota sobre o Corneteiro Lopes)
O estratagem providencial de Luís Lopes, que assim se chamava esse lusitano aderente à causa do Brasil, transformou subitamente a ação. Expantados da presença dessa cavalaria imaginária, com que não contavam, os portugueses estremeceram indecisos e, por fim, recuaram. Sem perda de um momento, prevalecendo-se os brasileiros da situação, ordenaram a carga de baioneta. As hostes quase vitoriosas vinham agora de roldão sobre a planície, fugindo amedrontadas, envolvendo as reservas na mesma dispersão e na mesma derrota.
Depois desse desastre e do último malogro da ação sobre Itaparica, o exército de Madeira ficou em total abatimento, que não pôde renovar reforços para dominar além da capital.



Folclore da Independência



Uma luta tão duradoura, tão visceralmente ligada à s aspirações de um povo, deixou um variado legado no folclore.

O historiador José Calasans registrou algumas quadrinhas que eram cantadas, de ambos os lados (portugueses e brasileiros):

Dos portugueses, parodiando o Hino do Brasil:


Brava gente brasileira
Do gentio da Guiné
Que deixou as cinco chagas
Pelos ramos do café.



"cinco chagas" referia-se à bandeira portuguesa
"ramos do café", alusão à bandeira adotada por Pedro I.



Dos brasileiros, contra seus adversários, as quadrinhas:


Labatut jurou a Pedro,
Quando lhe beijou a mão,
Botar fora da Bahia
Esta maldita nação!


O Madeira queria
se coroar!
Botou uma sorte,
Saiu-lhe um azar!



Nas batalhas



Intervenções divinas:



Regista ainda Calasans fato narrado pelo folclorista João da Silva Campos, em que Santo Antônio protagonizara curiosa intervenção na retirada das tropas do Brigadeiro Manuel Pedro de Salvador, possibilitando assim a organização das forças de resistência em Cachoeira: "A soldadesca d'el-rei deu para trás com precipitação, ante os repetidos golpes do estranho guerreiro de burel que, ao demais, parecia blindado contra as balas (...) Mais tarde explicaram os reinóis a causa de haverem cedido terreno à queles. Então os nacionais, que não tinham visto frade algum à testa dos seus pelotões, atribuíram a Santo Antônio a façanha de, esposando a causa da Independência do Brasil, haver-se oposto de arma em punhos aos seus compatriotas".

Já na batalha do Rio Vermelho foi a aparição da Senhora Santana que, estando as tropas descansando, avisou-as da chegada do inimigo, evitando assim o ataque surpresa e possibilitou a vitória aos brasileiros.

O "Corneteiro Lopes":
Também atribuído ao folclore a existência do corneteiro que, na decisiva Batalha de Pirajá, invertera a ordem recebida de tocar a "retirada", inverteu o toque para "degolar", apavorando os portugueses em franca vantagem e enchendo de inaudito ânimo as tropas brasileiras.

O "Caboclo"



Importante participação nas lutas teve o elemento indígena. Sobretudo representava o "verdadeiro brasileiro", o dono da terra, que somara seus esforços aos demais combatentes. A Bahia rendeu-lhe homenagens sempre ostensivas e, em 1896, no monumento erguido na capital baiana, o caboclo encima - tal qual a figura do Almirante Nelson no monumento a Trafalgar, em Londres - aquele importante marco.

Na cidade de Caetité, que todos os anos festeja o 2 de Julho com grande pompa, a cabocla surge num dos carros, matando o "Dragão da Tirania", que representa o colonizador vencido.

Resquícios: o "Mata Maroto"



A história regional baiana confirma que na área do São Francisco ocorreram disputas entre brancos nacionais, que participavam da luta pela independência do Brasil em 1823, e portugueses “em um movimento conhecido na região como Guerra Mata-Maroto”.



1820 - Revolução liberal do Porto

Revolução liberal do Porto


A chamada Revolução do Porto foi um movimento liberal que acarretou consequências tanto na História de Portugal como na História do Brasil.

Iniciado na cidade do Porto no dia 24 de Agosto de 1820, cuja burguesia mercantil se ressentia dos efeitos do Decreto de Abertura dos Portos à s Nações Amigas (1808), que deslocara para o Brasil parte expressiva da vida econômica metropolitana, o movimento reivindicatório logo se espalhou, sem resistências, para outros centros urbanos de Portugal, consolidando-se com a adesão de Lisboa.

Iniciado pela guarnição do Porto, irritada com a falta de pagamento, e por comerciantes descontentes daquela cidade, conseguiu o apoio de quase todas as camadas sociais: o Clero, a Nobreza e o Exército português. Entre as suas reivindicações, exigiu:

- o imediato retorno da Corte para o reino, visto como forma de restaurar a dignidade metropolitana;
- o estabelecimento, em Portugal, de uma Monarquia constitucional; e
- a restauração da exclusividade de comércio com o Brasil (reinstauração do Pacto Colonial).

A junta governativa de Lord Beresford foi substituída por uma junta provisória, que convocou as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa para elaborar uma Constituição para Portugal. Enquanto esta carta magna estava sendo redigida, entrou em vigor uma Constituição provisória, que seguia o modelo espanhol.

O movimento, vitorioso, ficaria conhecido como Revolução do Porto ou Revolução Liberal do Porto. Como consequências, a Corte retornou a Portugal no ano de 1821 e, diante do progressivo aumento da pressão para a recolonização do Brasil, este proclamou a sua independência em 1822.

1812 - Guerra de 1812

Guerra de 1812
A Guerra de 1812, ou a Guerra Anglo-Americana, foi uma guerra ocorrida entre 1812 e 1815 entre os Estados Unidos da América e a então colônia britânica de Canadá. A guerra terminou em status quo.

A Revolução Francesa trouxe problemas para os EUA, devido à s diferenças entre as facções federalistas(admiradores da Inglaterra) e os republicanos (admiradores da França revolucionária), e a acentuação da rivalidade da França com a Inglaterra, que não engolira a independência da ex-colônia. Além disso, os britânicos ainda tinham ligações comerciais com os sulistas. Eles tentaram de todas as maneiras impedir os acordos entre franceses e nortistas, utilizando-se da força: apresamento de navios da ex-colônia, desafiando a soberania nacional e prejudicando as indústrias; recrutamento forçado de norte-americanos por ingleses; problemas com índios no oeste, instigados por britânicos no Canadá; e, em para os EUA, a conquista da mesma, fato esse almejado por eles. Entre 1812 e 1814 ocorreu o conflito, durante o governo do presidentre James Madison. Apesar dos desastres sofridos, o tratado de Gand, que acabou com a guerra, não promoveu modificações no mapa dos EUA. Melhor, reforçou o sentimento nacionalista da população e consolidou a União.

1810 - Guerra da Independência do México

Guerra da Independência do México
Depois de quase três séculos sob domínio colonial espanhol, os habitantes do Vice-Reino da Nova Espanha começaram a exigir a independência da sua nação devido a divergências políticas e religiosas com a coroa. No início do século XIX este sentimento ganhou força entre a elite da Cidade do México e, depois de algumas tentativas falhadas, a guerra foi declarada na madrugada de 16 de Setembro de 1810 pelo padre Miguel Hidalgo y Costilla na paróquia de Dolores Hidalgo, estado de Guanajuato (esta declaração ficou conhecida como Grito de Dolores).

O conflito prolongou-se por oito anos e esteve longe de ser um movimento homogéneo. Começou quase como se de uma guerra religiosa se tratasse sendo liderada por sacerdotes. No entanto passado pouco tempo tornou-se uma guerra republicana, tendo o exército realista praticamente posto fim à contenda após um par de anos. A luta independentista passou então a fazer-se sob a forma de uma guerra de guerrilha confinada à s montanhas do sul até que um hábil coronel realista de nome Agustín de Iturbide negociou alianças com quase todas as facções combatentes (incluindo o governo do vice-reino) tendo conseguido a independência de uma forma relativamente pacífica em 27 de Setembro de 1821, ainda que o reconhecimento formal de Espanha só tenha ocorrido em 28 de Abril de 1836.

A antiga colónia espanhola passou a ser, de forma bastante efémera, uma monarquia constitucional católica com a designação de Império Mexicano o qual, após a independência das províncias da América Central bem como de alguns conflitos internos, se converteria numa república federal.


Miguel Hidalgo e o início do movimento de insurgência

A figura central e principal instigador da independência do México foi Miguel Hidalgo y Costilla, padre na pequena paróquia de Dolores Hidalgo, Guanajuato. Logo após a sua ordenação como sacerdote, Hidalgo começou a promover o levantamento popular de índios e mestiços contra os espanhóis abastados, os fazendeiros e os aristocratas. Cedo compreendeu a necessidade de diversificação das actividades industriais em Guanajuato, cuja economia estava tradicionalmente centrada na indústria mineira. Ao mesmo tempo, durante os sete anos que passou em Dolores, Hidalgo promoveu grupos de discussão em sua casa, onde eram bem-vindos indígenas, mestiços, criollos (de origem espanhola, mas nascidos na Nova Espanha) e peninsulares. Os temas abordados nestas discussões eram acontecimentos da época, aos quais Hidalgo juntava as suas opiniões sociais e económicas. O movimento independentista nasceu destas discussões informais e era dirigido contra o domínio político e económico espanhol sobre a Nova Espanha. Foi em 8 de Dezembro de 1810 que os conspiradores decidiram iniciar o conflito.

O Grito de Dolores

Os planos independentistas foram descobertos pelo governo central, sendo os conspiradores alertados por Josefa Ortíz de Domínguez, mulher do Corregedor de Querétaro, de que havia ordens de captura emitidas contra eles. Pressionado por estes novos acontecimentos, Hidalgo decidiu iniciar imediatamente a luta pela independência, na manhã do dia 16 de Setembro de 1810 (sendo esta a data em que o México celebra a sua independência). Os sinos tocaram a rebate chamando a população a quem Hidalgo pediu que se juntassem à luta contra o governo espanhol e peninsulares, com o seu famoso Grito de Dolores: ”Viva a Virgem de Guadalupe! Morte ao mau governo! Viva Fernando VII!”. A população respondeu entusiasticamente e de imediato uma multidão começou a marchar em direcção à capital regional, Guanajuato. Os mineiros de Guanajuato juntaram-se aos trabalhadores de Dolores no massacre de todos os peninsulares que ofereceram resistência, incluindo o intendente, dirigente colonial na região.

A partir de Guanajuato as forças independentistas marcharam até à Cidade do México depois de terem capturado Zacatecas, San Luís Potosí e Valladolid. Em 30 de Outubro de 1810 foram enfrentados pelas forças realistas em Monte de Las Cruces e apesar da vitória dos independentistas, estes perderam o impulso inicial, fracassando na sua intenção de tomar a Cidade do México. Após várias vitórias, as forças insurgentes dirigiram-se em direcção ao norte, com destino ao Texas. Em Março do ano seguinte, os insurgentes foram emboscados e feitos prisioneiros em Monclova, no estado de Coahuila. Hidalgo, sendo sacerdote, foi julgado pela Santa Inquisição e declarado culpado de heresias e traição, sendo condenado à morte. Seria fuzilado no dia 31 de Julho de 1811. O seu corpo seria depois mutilado e a sua cabeça exposta publicamente em Guanajuato, como advertência aos possíveis insurgentes.

José María Morelos y Pavón e a declaração de independência

Depois da morte de Hidalgo, a liderança do movimento insurgente foi assumida por José María Morelos y Pavón. Morelos tomou as rédeas dos assuntos políticos e militares da insurreição planeando um movimento estratégico com vista a isolar a Cidade do México e a cortar as suas comunicações com as costas. Em Junho de 1813, foi por ele convocado um congresso nacional de representantes de todas as províncias, que teve lugar em Chilpancingo, actual estado de Guerrero, com o objectivo de discutir o futuro do México como nação independente. Os pontos mais importantes do documento emergente deste congresso foram a soberania nacional, o direito universal ao voto para todos os homens, a adopção do catolicismo como religião oficial, a abolição da escravatura e do trabalho forçado, o fim dos monopólios governamentais e o fim dos castigos físicos. A declaração de independência seria assinada a 6 de Novembro de 1813. Apesar de alguns êxitos iniciais das forças de Morelos, as forças coloniais conseguiriam romper o cerco feito à Cidade do México ao fim de seis meses, capturando posições em zonas vizinhas à cidade e acabando por invadir Chilpancingo. Depois destas derrotas o congresso (particularmente Ignacio López Rayon), em lugar de se unir de forma a conseguir a independência, decidiu deixar de reconhecer Morelos como generalíssimo e chefe supremo do exército incumbindo-o unicamente da tarefa de proteger o congresso. Morelos conseguiria proteger o congresso de tal forma que seria redigida uma constituição, jurada em Apatzingan em 22 de Outubro de 1814. A constituição concedia poderes absolutos ao congresso (no seio do qual se travava uma luta acesa) e este não tardaria a reunir de novo os efectivos necessários à continuação da luta deixando Morelos praticamente sem forças, com receio de que este tomasse o poder). Morelos seria capturado poucos meses depois durante uma escaramuça pela manutenção à distância dos realistas que perseguiam os congressistas, enfrentando o mesmo destino que Hidalgo. Seria fuzilado em 22 de Dezembro de 1815, depois de ser degradado e excomungado.

Guerrero, Victoria e a guerra de guerrilha

Entre 1815 e 1821, a guerra de independência tornou-se uma guerra de guerrilha. Nesta fase emergiriam dois caudilhos ilustres: Guadalupe Victoria (cujo nome verdadeiro era Manuel Félix Fernández) em Puebla e Vicente Guerrero em Oaxaca. Os dois ganharam a lealdade e o respeito dos seus seguidores. Entretanto o Vice-rei pensava ter a situação controlada e declarou o indulto geral para todos os rebeldes que depusessem as armas.

Após dez anos de guerra civil e a morte de dois dos seus líderes, o movimento insurgente encontrava-se inerte e próximo do fracasso. Os rebeldes enfrentavam forte resistência dos espanhóis e a apatia dos criollos mais influentes da colónia. A violência excessiva e a paixão popular dos exércitos irregulares de Hidalgo e Morelos convenceram muitos criollos de que se tratava de uma guerra de classes e raças, o que os levou a juntar-se, ainda que contrafeitos, ao governo espanhol, até que pudessem encontrar uma via menos sangrenta para a obtenção da independência. É neste momento que os planos de um caudilho militar coincidiram com uma revolta liberal em Espanha, tendo tornado possíveis as repentinas mudanças de lealdade, a favor do lado independentista.

No que supostamente deveria ser a última campanha realista contra os insurgentes, foi enviada pelo Vice-rei Juan Ruíz de Apodaca uma força comandada pelo criollo Agustín de Iturbide, com a intenção de derrotar o exército de Guerrero em Oaxaca. Iturbide, nascido em Valladolid, havia-se tornado famoso pelo fervor com perseguia as forças do mal de Hidalgo e Morelos durante os primeiros anos da luta independentista. Como favorito da hierarquia da Igreja mexicana, Iturbide era a encarnação do perfeito criollo conservador: pio, religioso e dedicado à protecção da propriedade privada e dos privilégios sociais. No entanto, Iturbide estava insatisfeito, pois carecia de uma alta patente militar bem como de riqueza.

Iturbide e Fernando VII de Espanha

A missão de Iturbide em Oaxaca coincidiria com um bem sucedido golpe militar em Espanha, contra o novo monarca, Fernando VII. Os líderes do golpe, que haviam sido incluídos numa expedição militar para suprimir os movimentos independentistas das Américas, obrigaram o rei a assinar a constituição liberal de 1812. Quando chegaram ao México notícias destes acontecimentos, Iturbide entendeu-os como um perigo para o status quo e como uma oportunidade para os criollos assumirem o controlo do México. Depois de um primeiro confronto com as forças de Guerrero, Iturbide trocou as suas lealdades e convidou o líder rebelde para um encontro em que se discutiriam os princípios de um movimento insurgente regenerado.

Em Iguala, Iturbide proclamou três princípios ou garantias ao México independente: o México seria uma nação independente governada pelo rei Fernando VII ou outro príncipe conservador da Europa; criollos e peninsulares teriam os mesmos direitos e privilégios; a igreja Católica manteria os seus privilégios e o monopólio religioso no México. Depois de convencer as suas tropas a aceitar estes princípios, proclamados em 24 de Fevereiro de 1821, como Plano de Iguala, Iturbide persuadiu Guerrero a unir forças com ele a favor da nova manifestação conservadora do movimento de independência. Foi então criado um novo exército, o exército das Três Garantias, sob o comando de Iturbide, para garantir a implementação do Plano de Iguala. O plano satisfazia tanto os liberais como os conservadores; o objectivo da independência e a simultânea protecção da Igreja Católica tornaram possível o apoio de todos ao movimento independentista.

O consumar da independência

As forças rebeldes de todo o México juntaram-se ao exército de Iturbide. Quando a vitória dos insurgentes se tornou aparente deu-se a renúncia do Vice-rei. Em 24 de Agosto de 1821, foi assinado, por Iturbide e representantes da coroa espanhola, o Tratado de Córdoba, que reconhecia o México como nação independente segundo os termos do plano de Iguala. Iturbide, que havia sido um realista leal, convertera-se no paladino da independência mexicana. Iturbide incluiu um artigo no tratado que possibilitava ao congresso escolher um rei criollo se nenhum membro da realeza europeia aceitasse o trono mexicano. Este artigo permitiu a Iturbide subir ao trono mexicano, dando início ao primeiro Império Mexicano.

1807 - Guerra Peninsular

Guerra Peninsular


A chamada Guerra Peninsular sucedeu no início do século XIX, na Península Ibérica, integrando o evento mais amplo das Guerras Napoleónicas. Envolveu Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França, com repercussões além da Europa, na independência da América Latina.


Antecedentes

Embora uma historiografia tradicional sustente um recorte entre 1807 e 1814, a sequência de eventos envolvendo a península remonta à Campanha do Rossilhão (1793-95), quando tropas de Portugal reforçam as da Espanha, integrando a primeira aliança liderada pela Inglaterra contra a França revolucionária.

A partir da ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder (1799), a Espanha alia-se à França, para, por meio da invasão e da divisão de Portugal entre estes, atingir indirectamente os interesses comerciais do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte (Guerra das Laranjas, 1801).

Oscilando entre o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte e a França enquanto potências, Portugal, tenta um equilíbrio que preserve a sua soberania e os seus interesses. Sem conseguir que Portugal encerrasse os seus portos ao Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Napoleão assina o Tratado de Fontainebleau com a Espanha (27 de outubro de 1807), tentando repartir o território português a ser conquistado, em três reinos:

Lusitânia Setentrional – cujo território se compreendia entre o rio Minho e o rio Douro, um principado a ser governado pelo soberano do extinto reino da Etrúria (então Maria Luísa, filha de Carlos IV de Espanha);
Algarves – região compreendida ao sul do Tejo, a ser governada por Manuel de Godoy, o Príncipe da Paz, primeiro-ministro de Carlos IV, com o título de rei; e
(Resto de) Portugal – cujo território se inscrevia entre o rio Douro até ao rio Tejo, região estratégica pelos seus portos, a ser administrada directamente pela França até à paz geral.
Para o cumprimento do Tratado, Napoleão tentou a invasão de Portugal, iniciando a que tradicionalmente se denomina Guerra Peninsular (1807-14), cuja primeira parte é conhecida como invasões francesas a Portugal.

1a. Invasão
Sob o comando do General Junot, as tropas francesas entraram na Espanha em 18 de Outubro de 1807, cruzando o seu território em marcha acelerada em pleno inverno, e alcançando a fronteira portuguesa em 20 de Novembro. Sem encontrar resistência, uma coluna de tropas invasoras atingiu Abrantes a 24, em busca de provisões. Faminto e desgastado pela marcha e pelo rigor do inverno, o exército francês teve dificuldade para ultrapassar o rio Zêzere, entrando em Santarém a 28, de onde partiu no mesmo dia, rumo a Lisboa, onde entrou a 30, à frente de dois regimentos em mau-estado. No dia anterior, a Família Real e a Corte portuguesa haviam largado ferros da barra do rio Tejo, rumo ao Brasil, levando em 34 navios de guerra portugueses, cerca de 15.000 pessoas, deixando o governo de Portugal nas mãos de uma regência, com instruções para não "resistir" aos invasores.

No ano seguinte, em Agosto, uma força britânica sob o comando do general Arthur Wellesley (mais tarde duque de Wellington), desembarcava em Portugal, avançando sobre Lisboa. Travaram-se, na seqüência, a batalha de Roliça e a batalha do Vimeiro, vencidas pelos aliados Portugal/Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, forçando à Convenção de Sintra.

2a. Invasão
Enquanto a invasão de Portugal sucedia, Napoleão forçou a abdicação do rei Carlos IV de Espanha e de seu herdeiro, D. Fernando (Baionne, 1808), conduzindo ao trono espanhol o seu irmão José Bonaparte. Os espanhóis revoltaram-se contra os usurpadores franceses, obtendo apoio das tropas Britânicas estacionadas no norte de Portugal. Sob o comando de John Moore, os Britânicos passam a fronteira no início de 1809, para serem derrotados, na Corunha, pelo Marechal Soult. Obrigadas a retirar, deixaram a descoberto a fronteira com Portugal, permitindo a Soult, invadir o país pela fronteira do Minho em Março de 1809, avançando até à cidade do Porto, cidade que ocupam a 24 desse mês, fixando fronteira no rio Douro. Em Maio desse mesmo ano, tropas Luso-Britânicas sob o comando do General Arthur Wellesley e do comandante-em-chefe o Marechal William Carr Beresford, vencem a chamada batalha do Douro, reconquistando a cidade do Porto (29 de Maio) e expulsando o invasor, que se retirou para a Galiza. Seguindo para o sul, as tropas de Wellesley travaram a batalha de Talavera em território espanhol e regressaram a Portugal.

É de salientar ainda a importância da escaramuça de Serém, Concelho do Vouga - região pantanosa do rio Vouga e do rio Marnel, actualmente pertencente ao Concelho de Águeda -, em que o Capitão-Mor do Vouga, José Pereira Simões, travou o avanço para o Sul do Marechal Soult, até à chegada do Coronel Nicholas Trant e do Batalhão Académico e, posteriormente, do General Arthur Wellesley, com reforços. Como consequência, as hostes do Marechal Soult não conseguiram atravessar o rio Vouga, perderam a escaramuça de Serém e foram obrigados a retirar-se para o Norte, tendo-se acantonado na cidade do Porto.

3a. Invasão
Uma terceira invasão francesa do território português teve início em 1810, sob o comando do Marechal André Masséna. Penetrando pela região Nordeste de Portugal, conquistou a Praça-forte de Almeida (Agosto), na fronteira, marchando em seguida sobre Lisboa. Interceptado pelas forças Luso-Britânicas, foi derrotado na batalha do Buçaco (27 de Setembro). Reagrupando as suas forças, retomou a marcha, flanqueando as tropas Luso-Britânicas e forçando-as a recuarem para defender a capital. Os franceses atingiram as Linhas de Torres a 14 de Outubro, erguidas na previsão dessa eventualidade e onde as tropas Luso-Britânicas os aguardavam desde o dia 10, retirando-se, derrotados, ao final do dia seguinte.

Contra-Ofensiva

A campanha dos exércitos Britânico, Português e Espanhol, entre Maio e Agosto de 1813, culminou na batalha de Vitória, seguida um mês depois pela batalha dos Pirinéus. Em pouco mais de dois meses e depois de uma ofensiva de 600 quilómetros com mais de 100 mil homens das três nações em armas, o curso da história Europeia foi modificado de forma decisiva. Seguiram-se uma série de batalhas em território francês até à vitória em Toulouse (10 de Abril de 1814), que colocou fim à Guerra Peninsular.

Conclusão

O estudo das circunstâncias que envolvem a Guerra Peninsular são importantes pelos desdobramentos que encerram, debilitando as forças da França e consolidando a hegemonia inglesa que se afirma desde então. Ao eliminar a monarquia de Carlos IV de Bourbon na Europa, Napoleão abriu as portas que conduziram à independência da América espanhola (com importante apoio da Grã-Bretanha). O mesmo ocorreu ao permitir a saída de D. João VI para o Brasil, processo que criaria as pré-condições para a independência da América portuguesa. Ainda em 1808, ao aportar a Salvador, na Bahia, o Príncipe-Regente assinou o Decreto de Abertura dos Portos à s Nações Amigas, vindo a assinar, em 1810, os tratados que permitiram a hegemonia britânica nas relações comerciais entre ambos os países, abrindo as portas de um mercado em três continentes, com tarifas alfandegárias privilegiadas. Com fôlego renovado, sob o comando do mesmo Wellington, herói da Guerra Peninsular, a Grã-Bretanha derrotou Napoleão na batalha de Waterloo (1815), desfrutando de uma hegemonia mundial que conservaria até à Primeira Guerra Mundial (1914-18)

Por outro lado, embora com menor impacto, o governo de Portugal declararia guerra à França e à Espanha, ocupando a Guiana francesa (1809-15) e a Banda Oriental do rio da Prata, actual Uruguai (1810-28).

A crise económica e institucional em Portugal continental agravou-se com a permanência da corte portuguesa no Brasil, o que fortaleceu as idéias liberais no país, conduzindo à Revolução do Porto (1820) e forçando o retorno do soberano à Europa (1821). A tentativa de recolonização do Brasil levou à independência deste, no ano seguinte (1822). Enquanto que franceses e ingleses continuaram com o seu desenvolvimento económico e industrial, Portugal viu o seu território transformado em campo de batalha, as cidades constantemente pilhadas pelos exércitos estrangeiros e a indústria estagnada.

1803 - Guerras Napoleónicas

Guerras Napoleónicas
Guerras Napoleônicas é a designação do conflito mundial que opôs a quase totalidade das nações da Europa a Napoleão Bonaparte, herdeiro da Revolução Francesa e ditador militar.

Bonaparte, imperador da França, foi 1º Cônsul em 1799 e coroado em 1804, sob o título de Napoleão I. A partir de 1807 conduz o governo, sem atander aos Corpo Legislativo e com características autoritárias, imperiais e expansionistas.

As guerras, a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se guerras nacionais a partir da resistência popular de Espanha e Portugal aos invasores napoleónicos. Com o apoio da aristocracia inglesa, as nações europeias, derrotadas em sucessivas coligações acabaram por se impor a Napoleão na Batalha de Waterloo (1815).


Precedentes

A seguir à s guerras da Primeira e Segunda Coligações contra a França, durante e logo após a Revolução Francesa, formou-se uma Terceira Coligação em 1804. A ideia desta coligação era tentar deter as crescentes ambições do governante francês, Napoleão Bonaparte, que em Maio de 1804 recebera o título de imperador. As acções de Napoleão provocaram uma nova entrada da Grã-Bretanha na guerra, logo seguida pela Áustria, Nápoles, Rússia e Suécia. A Espanha era então aliada da França.

A guerra no mar

Napoleão organizou uma enorme frota para atacar a Inglaterra, mas em Outubro de 1805 uma esquadra britânica comandada por Horácio Nelson destruiu uma força combinada franco-espanhola em Trafalgar, acabando com a ameaça francesa.

Europa central

Napoleão lançou os seus exércitos num ataque à Áustria, que derrotou-a na Batalha de Austerlitz em Dezembro de 1805. No ano seguinte invadiu a Prússia e derrotou-a nas batalhas de Jena e Auerstadt. Em 1807 derrotou os Russos na batalha de Friedlândia. Em 1809 os Austríacos voltaram à luta mas foram novamente derrotados e obrigados a fazer a paz.

Península Ibérica

Na península Ibérica, em 1807, Napoleão atacou Portugal e, em 1808, a Espanha, nomeando o seu irmão José Bonaparte como rei de Espanha. Os povos ibéricos revoltaram-se e as tropas britânicas desembarcaram em Portugal. Napoleão forçou-as a uma retirada para a Corunha, no norte de Espanha. Arthur Wellesley, mais tarde duque de Wellington, tomou então o comando aliado na Guerra Peninsular. Enquanto as forças de guerrilha e os corajososo exércitos espanhóis, desgastavam os franceses e obrigavam Napoleão a manter um enorme exército na Espanha, o exército português reconstituído aliado aos britânicos sob o mando de Wellington, segurou Portugal através das Linhas de Torres e venceu no Buçaco, Albuera, Salamanca, Badajoz, Ciudad Rodrigo. Em Maio de 1813 o exército anglo-português iniciou a libertação de Espanha, obtida nas batalhas de Vittoria e dos Pirinéus. Após a queda de Pamplona e San Sebastian, o exército anglo-português atravessou a fronteira francesa e alcançou sucessivas vitórias em Nivelle, Nive, e finalmente Toulouse, a 10 de Abril.

Rússia

Napoleão estava decidido a esmagar a Rússia, que invadiu com seiscentos mil homens em Junho de 1812. Tomou Moscovo, a que os Russos tinham pegado fogo, mas encontrou-se com falta de mantimentos e em pleno Inverno russo. Teve de retirar, perdendo a esmagadora maioria dos seus soldados. A Áustria, Prússia e outros estados alemães recomeçaram a guerra, e em Outubro de 1813 uma força combinada de russos, prussianos e austríacos derrotou Napoleão em Lípsia. Este abdicou em Abril de 1814 e foi exilado para a ilha de Elba.

Brasil

As Guerras Napoleónicas repercutiram-se no Brasil a partir da invasão da península Ibérica desde 1807.

Com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil (1808), e a transferência da Administração para o Rio de Janeiro, o Príncipe Regente emite o Decreto de Abertura dos Portos à s Nações Amigas, assinando-se em seguida os tratados de 1810: o Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de Comércio e Navegação, com a Inglaterra, consolidando a ascendência daquela potência sobre Portugal e seus domínios ultramarinos.

Em represália à ocupação do território de Portugal continental, as forças portuguesas invadem e ocupam a Guiana Francesa (1809-16), e incorporam a banda oriental (atual Uruguai) do rio da Prata.

Em 1816, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves.

Os cem dias

Em Março de 1815 Napoleão escapou-se da ilha de Elba e regressou à França. O rei francês, Luís XVIII, fugiu e Napoleão viu-se de novo no poder. Reuniu-se apressadamente um exército aliado, sob o comando de Wellington e do marechal prussiano Gebhard von Blucher, que derrotou Napoleão na Bélgica, em Waterloo, em Junho. Napoleão foi novamente exilado, agora para a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu em 1821.

1801 - Guerra das Laranjas

Guerra das Laranjas

A chamada Guerra das Laranjas foi um curto episódio militar que se registrou entre Portugal e a Espanha em 1801, preludiando a Guerra Peninsular, com extensos desdobramentos, quer na península Ibérica, quer no ultramar português.

Episódio traumático na História de Portugal, reveste-se de particular importância por ter iniciado a chamada Questão de Olivença, em aberto na política de Relações Internacionais de ambos os países até aos nossos dias.


Antecedentes políticos e atores

Os antecendentes deste conflito episódico inscrevem-se remotamente no confronto entre a França e a Inglaterra pela hegemonia no plano internacional, envolvendo a Espanha e Portugal, como respectivos estados-satélites e, episodicamente, no contexto do golpe do 18 Brumário, que conduziu Napoleão Bonaparte ao poder (Novembro de 1799).

Neste momento, ao se iniciar o século XIX, o governo de D. Maria I de Portugal (1777-1816) buscava se equilibrar entre as duas potências no tabuleiro europeu, através de uma política externa pautada pela neutralidade. Os ganhos com essa política eram duplos, uma vez que sob o manto dessa neutralidade, o comércio português atendia a ambos os lados em conflito.

A França desejosa de romper a aliança anglo-portuguesa, e assim fechar os portos portugueses ao comércio britânico, pressionava a Espanha para invadir Portugal. Não foi outra a intenção do Segundo Tratado de Santo Ildefonso assinado sigilosamente entre a França e a Espanha, concluído em agosto de 1796, pelo qual esta última declarou guerra à Inglaterra a 8 de Outubro. A pressão sobre Portugal aumentou quando do seu envolvimento na destruição da armada espanhola ao largo do cabo de São Vicente e, posteriormente, pela participação no bloqueio inglês a Alexandria, no Egito (Julho de 1798). Em 1800, pela assinatura de um terceiro Tratado de Santo Ildefonso, a França obteve novas concessões da Espanha. Em consequência ambos os países assinaram uma Convenção (Janeiro de 1801), pela qual um ultimado conjunto foi apresentado a Portugal (Fevereiro), intimando-o a:

- abandonar a sua tracional aliança com a Inglaterra, fechando-lhe os seus portos;
- abrir os seus portos à França e à Espanha;
- entregar território correspondente a ¼ da população metropolitana como garantia da devolução ou cessão de ilhas espanholas em mãos inglesas: Trinidad, Minorca e Malta;
- pagar reparações de guerra à França e à Espanha; e
- rever os limites fronteiriços com a Espanha.
Caso Portugal se recusasse a aceitar os termos deste ultimato, seria invadido pela Espanha, para o que a França contribuiria com um efetivo de 15.000 homens.

Os efetivos

Mesmo Portugal tendo despachado um negociador para a Corte de Madrid, contestanto a intimação, a Guerra foi declarada.

O Exército português contava no início de 1801 apenas com 2.000 cavaleiros e 16.000 infantes, sob o comando de D. João Carlos de Bragança Sousa e Ligne, 2.º duque de Lafões.

Pelo lado espanhol, em Março, o primeiro-ministro espanhol Manuel de Godoy foi nomeado comandante-em-chefe das tropas de invasão, cujo efetivo ascendia a 30.000 homens.

Pelo lado francês, em Abril, as tropas sob o comando do general Leclerc (cunhado de Napoleão Bonaparte), começaram a chegar à Espanha. Diante do rápido desfecho do conflito, entretanto, não tiveram oportunidade de entrar em combate.

A campanha

A 20 de Maio, o exército espanhol penetrava em Portugal pelo Alentejo, ocupando, sem resistência, a Praça-forte de Olivença, feito que se repetiu com a Fortaleza de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena e Ouguela. A Praça-forte de Campo Maior resisitiu por dezoito dias antes de cair com honras militares e a Praça-forte de Elvas resistiu com êxito. No curto espaço de dezoito dias, o exército espanhol era senhor da região do Alto-Alentejo.

A designação que o conflito tomou historiograficamente deve-se a um episódio ocorrido quando do cerco a Elvas (Maio de 1801): dois soldados espanhóis teriam colhido dois ramos de laranjeira com frutos, que foram remetidas frescas por seu comandante, Manuel de Godoy, à rainha Maria Luísa, esposa de Carlos IV de Espanha, com a mensagem: Eu careço de tudo, mas sem nada irei para Lisboa. Alguns autores vêem neste gesto de galanteria um indicativo de uma relação mais íntima entre Godoy e a sua soberana.

O Tratado de Badajoz

Surpreendido e em desvantagem, Portugal assinou o Tratado de Badajoz (6 de Junho de 1801), que entre seus artigos, estipulava:

A paz entre as duas nações, em toda a extensão de seus reinos e domínios, em terra e no mar;
O fechamento dos portos de Portugal e de todos os seus domínios aos navios da Inglaterra;
A restituição, pela Espanha, das praças e povoações de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, conservando, em qualidade de Conquista (...) a Praça de Olivença, seu Território, e Povos desde o Guadiana, estipulando-se a linha lindeira, naquele território, pelo rio Guadiana;
Probição ao contrabando nas fronteiras entre ambos os países;
Pagamento por parte de Portugal à Espanha, das despesas incorridas por esta na guerra;
Os termos do tratado foram ratificados pelo Príncipe-Regente de Portugal no dia 14 e pelo rei da Espanha a 21 do mesmo mês, mas foram rejeitados por Napoleão Bonaparte. Um novo Tratado foi celebrado, a 29 de Setembro de 1801, que, se por um lado formulou imposições mais severas a Portugal, por outro, evitou uma nova violação de seu território.

1789 - Revolução Francesa

Revolução Francesa


Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799 alteraram o quadro político e social da França. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776).

A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais na França e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean Nicolas Pache. Há quem vaticine que os revolucionários instituiram à força das armas estas três premissas, que não se completam sem uma quarta: a Morte. Assim era o grito da revolução: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou a Morte!"

Terminaram os privilégios da nobreza e do clero, um primeiro passo no sentido do igualitarismo. É importante lembrar que a Revolução Francesa semeou novas ideologias na Europa, conduziu a guerras, mas foi até certo ponto derrotada pela tentativa de retornar aos padrões políticos, sociais e institucionais do Antigo Regime através de um movimento denominado de Restauração ou Contra-Revolução. Nesse período, o rei francês Luís XVIII outorgou a seus súditos uma Carta Constitucional.

A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Directório.

Causas da Revolução

As causas da revolução são remotas e imediatas. Entre as do primeiro grupo, há que considerar que a França passava por um período de crise econômica após anos de prosperidade. A participação francesa na guerra da independência norte-americana e os elevados custos da Corte de Luís XVI tinham deixado as finanças do país em mau estado.

Sociais
A sociedade francesa da segunda metade do século XVIII era composta por dois grupos muitos privilegiados:

o Clero ou Primeiro Estado, composto por Alto Clero, que representava 0,5% da população francesa e identificado com a nobreza além de negar reformas, e pelo Baixo Clero, identificado com o povo, e que as reclamava;
a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma camada palaciana ou cortesã, que sobrevivia à custa do Estado, por uma camada provincial, que se mantinha com as rendas dos feudos, e uma camada chamada Nobreza Togada, onde alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram os seus títulos e cargos, transmissíveis aos seus herdeiros. Aproximava-se de 1,5% dos habitantes.
Estes dois grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, grupo constituído por burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterogênea composta por artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este nome graças à s calças simples que usavam, diferentes dos tecidos nobres utilizados pelos nobres. Os impostos e contribuições para o Rei, o Clero e a Nobreza, incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que o Clero e a Nobreza, não só tinham isenção tributária como ainda usufruíam do Tesouro Real através de pensões e cargos públicos.

A reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à luz do pensamento Iluminista, representada por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John Locke etc. Eles forneceram pensamentos para criticar as estruturas políticas e sociais absolutistas, e sugeriram a idéia de uma ordem liberal burguesa.

Econômicas

Os historiadores colocam o ano de 1789 como o início da Revolução Francesa. Mas essa, por uma das "ironias" da história, começou dois anos antes, com uma reação dos notáveis franceses - clérigos e nobres - contra o absolutismo, que pretendia reformar-se e para isso buscava limitar seus privilégios. Luís XVI convocou a nobreza e o clero para contribuírem no pagamento de impostos, na altamente aristocrática Assembléia dos Notáveis (1787). Em meio ao caos econômico e ao descontentamento geral, Luís XVI de França não conseguiu promover reformas tributárias, impedido pela nobreza e pelo clero, que não queriam dar os anéis para salvar os dedos. Não percebendo que seus privilégios dependiam do absolutismo, os notáveis pediram ajuda à burguesia para lutar contra o poder real - era a Revolta da Aristocracia ou dos Notáveis (1787-1789). Eles iniciaram a revolta ao exigir a convocação dos Estados Gerais para votar o projeto de reformas.

Por sugestão do Ministro Jacques Necker, convocou a Assembléia dos Estados Gerais, instituição que não era reunida desde 1614. Os Estados Gerais se reuniram em Maio de 1789 no Palácio de Versalhes, com o objetivo não declarado de conseguir que o Terceiro Estado pagasse os impostos que o Clero e a Nobreza se recusavam a pagar.

As causas econômicas também eram estruturais. As riquezas eram mal distribuídas; a crise produtiva manufatureira estava ligada ao sistema corporativo, que fixava quantidade e condições de produtividade. Isso descontentou a burguesia.

Outro fator econômico foi a crise agrícola, que ocorreu graças ao aumento populacional. Entre 1715 e 1789, a população francesa cresceu consideravelmente, entre 8 e 9 milhões de habitantes. Como a quantidade de alimentos produzida era insuficiente e as geadas abatiam a produção alimentícia, o fantasma da fome pairou sobre os franceses.

Políticas
Os próprios servidores do Parlamento contestavam o regime e organização absolutistas, onde o poder era Real. O monarca estabelecia leis que podiam ser analisadas, julgadas e, se preciso, vetadas pelo Parlamento. O ministério propôs então a reforma que faria com que o clérigo e a nobreza pagassem impostos e se igualassem ao Terceiro Estado, mas que foi vetada pelo Parlamento. Para justificar esta decisão, afirmaram que só a Assembléia Constituinte poderia decidir sobre a criação de novos impostos.

O processo eleitoral compreendia duas fases, onde na primeira os eleitores votavam nos que, numa segunda fase, escolheriam os deputados. Numa sessão especial, Luís XVI reafirmou seu poder absoluto, obrigando o complexo cerimonial a se rebaixar. Então o Parlamento se exilou. Como o rei não poderia mais efetuar a reforma sem os magistrados, pediu então um empréstimo, que foi também negado e considerado ilegal. Em 1788, o rei reduziu o número de parlamentares; a porção rebelde deles obteve a duplicação dos representantes do Terceiro Estado, apesar de ser insuficiente.

A Assembléia Constituinte
Os deputados dos três estados eram unânimes em um ponto: desejavam limitar o poder real, à semelhança do que se passava na vizinha Inglaterra e que igualmente tinha sido assegurado pelos norte-americanos nas suas constituições. No dia 5 de maio, o rei mandou abrir a sessão inaugural dos Estados Gerais e, no seu discurso, advertiu que não se deveria tratar de política, isto é, da limitação do poder real, mas apenas da reorganização financeira do reino e do sistema tributário.

O Clero e a Nobreza tentaram diversas manobras para conter o ímpeto reformista do Terceiro Estado, cujos representantes comparecem à Assembléia apresentando as reclamações do povo (materializadas nos "Cahiers de Doléances"). Os deputados da nobreza e do clero queriam que as eleições fossem por estado (clero, um voto; nobreza, um voto; e povo, um voto), pois assim, já que clero e nobreza comungavam os mesmos interesses, garantiriam seus privilégios. O terceiro estado queria que a votação fosse individual, por deputado, porque, contando com votos do baixo clero e da nobreza liberal, conseguiria reformar o sistema tributário do reino. Diante da impossibilidade de conciliar tais interesses, Luís XVI tentou dissolver os Estados Gerais, impedindo a entrada dos deputados na sala das sessões. Os representantes do Terceiro Estado rebelaram-se e invadiram a sala do jogo da péla (espécie de tênis em quadra coberta), em 15 de Junho de 1789, e transformaram-se na Assembléia Nacional, jurando só se separar após a votação de uma constituição para a França (Juramento da Sala do Jogo da Péla). Em 9 de Julho de 1789, juntamente com muitos deputados do baixo clero, os Estados Gerais autoproclamaram-se Assembléia Nacional Constituinte.

Esta decisão incitou o rei a tomar medidas mais drásticas, entre as quais a demissão do ministro Jacques Necker, conhecido por suas posições reformistas. Ao descobrirem o acto, as massas parisienses mobilizaram-se e tomaram as ruas da cidade. Os ânimos exaltaram-se e aumentaram as propostas de tomar as armas.

O rei decidiu reagir fechando a Assembléia, mas foi impedido por uma sublevação popular em Paris, reproduzida a seguir em outras cidades e no campo.

Em 13 de Julho, organizou-se a Guarda Nacional, uma milícia burguesa para resistir ao rei e liderar a população civil, cujo comando coube ao deputado da Assembléia e herói da independência dos Estados Unidos, o Marquês de La Fayette.

Enquanto isso, os acontecimentos precipitaram-se e a agitação tomou conta das ruas: a 13 de Julho constituíram-se as Milícias de Paris, organizações militares-populares. No dia 14 de Julho, populares armados invadiram o Arsenal dos Inválidos, à procura de munições e, em seguida, invadiram a Bastilha, uma fortaleza que tinha sido transformada em prisão política, mas que já não era a terrível prisão de outros tempos. Os rebeldes tomaram a Bastilha por causa da pólvora que lá estava armazenada. Caiu assim um dos símbolos do absolutismo. A Queda da Bastilha causou profunda emoção nas províncias e acelerou a queda dos intendentes. Novas municipalidades e guardas nacionais foram organizadas.

A partir de então, a Revolução estendeu-se ao campo, com maior violência: os camponeses saquearam as propriedades feudais e invadiram e queimaram os castelos e cartórios, para destruir os títulos de propriedade das terras (fase do Grande Medo). Temendo o radicalismo, a noite de 4 de agosto, a Assembléia Nacional Constituinte aprovou a abolição dos direitos feudais, gradual e mediante amortização, além das terras da Igreja terem sido confiscadas. Daí por diante, a igualdade jurídica seria regra.

Inspirada na Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 26 de agosto, a Assembléia divulgou a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, (a que não terá sido estranha a acção do então embaixador dos EUA em Paris, Thomas Jefferson), síntese do pensamento iluminista liberal e burguês. Nesse documento, onde se pode ver claramente a influência da Revolução Americana, era defendido o direito de todos à liberdade, à propriedade, à igualdade - igualdade jurídica, e não social nem econômica - e de resistência à opressão. A desigualdade social e de riqueza continuava existindo. O nascimento, a tradição e o sangue não eram mais critérios para diferenciar socialmente os homens; foram substituídos pelo dinheiro e pela propriedade, que a partir daí passam a garantir a seus possuidores o prestígio social, embora, perante a lei, todos, desde o miserável ao milionário, fossem teoricamente iguais.

Pressionado pela opinião pública, Luís XVI deixou Versalhes, estabelecendo-se no Palácio das Tulherias, em Paris (outubro de 1789). Ali era mais facilmente admoestado pelas massas parisienses.

Fervilhavam os clubes: a imprensa tinha um papel cada vez maior nos acontecimentos políticos. Jean-Paul Marat e Hébert escreviam artigos incendiários.

A nobreza conservadora e o alto clero abandonaram a França, refugiando-se nos países absolutistas, de onde conspiraram contra a revolução. Numa reação contra os privilégios do clero e buscando recursos para sanar o déficit público, o governo desapropriou os bens da Igreja, colocando-as à venda e, com o seu produto, emitiu bônus do tesouro, os assignats, valendo como papel-moeda, logo depreciado. As propriedades da Igreja logo passaram para as mãos da burguesia. Para os camponeses pobres, restaram à s propriedades menores, que puderam ser adquiridas mediante facilitações.

Em agosto de 1790, foi votada a Constituição Civil do Clero, separando Igreja e Estado e transformando os clérigos em assalariados do governo, a quem deviam obediência. Ela determinava também que os bispos e padres de paróquia seriam eleitos por todos os eleitores, independente de sua filiação religiosa. O papa opôs-se a isso. Os clérigos deveriam jurar a nova Constituição. Os que fizeram isso ficaram conhecidos como juramentados; os que se recusaram passaram a ser chamados de refratários e engrossaram o campo da Contra-Revolução.

Procurando frear o movimento popular, a Assembléia Nacional Constituinte, pela Lei de Le Chapelier, proibiu associações e coalizões profissionais.

No palácio real, conspirava-se abertamente. O rei, a rainha, os seus conselheiros, os embaixadores da Áustria e da Prússia eram cabeças da conspiração. A Áustria e a Prússia, países absolutistas invadiram a França, que foi derrotada porque oficiais ligados à nobreza permitiram o fracasso do exército francês. Denunciou-se a traição na Assembléia. Em junho de 1791 a família real tentou fugir para a Áustria. O rei foi descoberto na fronteira, em Varennes, e é obrigado a voltar. A assembléia absolveu Luís XVI, mantendo a monarquia. Para justificar essa decisão, alegou que o rei fora seqüestrado. A Guarda Nacional, comandada por La Fayette, reprimiu violentamente a multidão que queria a deposição do rei.

A Constituição de 1791
Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira Constituição da França que resumia as realizações da Revolução.

Influenciada pelo exemplo dos Estados Unidos, a França implantou uma monarquia constitucional, isto é, o rei perdia os seus poderes absolutos. A carta estabelecia uma clara separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e concedia direitos civis completos aos cidadãos.

A população foi dividida em cidadãos ativos e passivos. Somente os cidadãos ativos, que pagavam impostos e possuíam dinheiro ou propriedades, participavam da vida política. Era o voto censitário. Os passivos eram os não-votantes, como mulheres, trabalhadores, desempregados e outros.

Apesar de ter limitado os poderes do rei, este tinha ainda o direito de designar seus ministros.

De mais, a constituição abolia o feudalismo, nacionalizava os bens eclesiásticos e reconhecia a igualdade civil e jurídica.

Em síntese, a Constituição de 1791 visava a criar, na França, uma sociedade burguesa e capitalista, em lugar da anterior, feudal e aristocrática.

Apesar disso, este projeto não teve muita sustentação. Alguns setores urbanos queriam continuar com o processo revolucionário, enquanto nobres fugiam e se refugiavam no exterior, planejando à distância organizar violentamente uma revanche armada. Os emigrados tinham apoio de Estados Absolutistas como Áustria e Prússia, que viam a Constituição como perigosa.

Em agosto de 1791, após a tentativa frustada de fuga da família real para a Áustria, os países que até então apoiavam a França lançaram a Declaração de Pillnitz, que afirmava (e apoiava) a restauração da monarquia francesa como um projeto de interesse comum a todos os Estados europeus. A população francesa ficou enfurecida, pois enxergava esta ação como uma intromissão direta aos assuntos do país.

A Assembléia Legislativa (1791-1792)
Em 1791 iniciou-se a fase denominada Monarquia Constitucional. Nas eleições de outubro de 1791, as cadeiras da Assembléia Legislativa foram ocupadas predominantemente por elementos da burguesia.

Embora a burguesia tivesse de enfrentar, dentro da Assembléia, a oposição da aristocracia, cujos deputados ocupavam o lado direito de quem entrava no recinto de reuniões, e também dos democratas, que ocupavam o lado esquerdo, as maiores dificuldades estavam fora da Assembléia.

À extrema direita, o rei e a aristocracia se recusavam a aceitar qualquer compromisso. À extrema esquerda, a pequena e média burguesia sentiam-se lesadas e enganadas.

Os camponeses, desesperados, porque tinham de pagar pela extinção dos direitos feudais, retomaram a violência.

O confisco dos bens da Igreja e a Constituição do Clero, que faziam com que os religiosos rompessem com o papado, levaram a maior parte do clero para o campo da Contra-Revolução.

Apesar de todas as dificuldades, a alta burguesia se mantinha no poder.

A Queda da Monarquia

Os emigrados buscavam apoio externo para restaurar o Estado absoluto. As vizinhas potências absolutistas apoiavam esses movimentos, pois temiam a irradiação das idéias revolucionárias francesas para seus países. Os emigrados e as monarquias absolutistas formaram uma aliança destinada a restaurar, na França, os poderes absolutos de Luís XVI. Alegando a necessidade de se restaurar a dignidade real da França, na Declaração de Pillnitz (1791) esses países ameaçaram a França de uma intervenção.

Em 1792, a Assembléia Legislativa aprovou uma declaração de guerra contra a Áustria. É interessante salientar que a burguesia e a aristocracia queriam a guerra por motivos diferentes. Enquanto para a burguesia a guerra seria breve e vitoriosa, para o rei e a aristocracia seria a esperança de retorno ao velho regime. Palavras de Luís XVI: "Em lugar de uma guerra civil, esta será uma guerra política" e da rainha Maria Antonieta: "Os imbecis [referia-se a burguesia]! Não vêem que nos servem". Portanto, o rei e a aristocracia não vacilaram em trair a França revolucionária.

Diante da aproximação dos exércitos coligados estrangeiros, formaram-se por toda a França batalhões de voluntários.

Luís XVI e Maria Antonieta foram presos, acusados de traição ao país por colaborarem com os invasores.

Verdun, última defesa de Paris, foi sitiada pelos prussianos. O povo, chamado a defender a revolução, saiu à s ruas e massacrou muitos partidários do Antigo Regime. Sob o comando de Danton, Robespierre e Marat, foram distribuídas armas ao povo e foi organizada a Comuna Insurrecional de Paris. As palavras de Danton ressoaram de forma marcante nos corações dos revolucionários. Disse ele: "Para vencer os inimigos, necessitamos de audácia, cada vez mais audácia, e então a França estará salva". Aconteceu aquilo que parecia impossível: as tropas revolucionárias, famintas, mal vestidas, mas alimentadas pelo ardor revolucionário, derrotaram, ao som da Marselhesa (o hino da revolução), a coalizão anti-francesa na Batalha de Valmy.

A Convenção (1792-1795)

Em 10 de agosto de 1792, a Assembléia foi dissolvida e a monarquia extinta. Criou-se uma nova Assembléia Nacional Constituinte (a Convenção Nacional), entrando numa fase radical. As primeiras medidas tomadas pela Convenção foram a Proclamação da República e a promulgação de uma nova Constituição (21 de setembro de 1792). Eleita sem a divisão dos eleitores em passivos e ativos, a alta burguesia monarquista foi derrotada. A Convenção contava com o predomínio dos representantes da burguesia.

Entre os revolucionários de 1789, houve uma divisão. A grande burguesia não queria aprofundar e radicalizar a revolução, temendo o radicalismo popular. Aliada aos setores da nobreza liberal e do baixo clero, formou o Clube dos Girondinos. O nome "girondino" (do francês girondin) deve-se ao fato de Brissot, principal líder dessa facção, representar o departamento da Gironda e de seus principais líderes serem provenientes de lá. Eles ocupavam os bancos inferiores no salão das sessões. Os jacobinos (do francês jacobin) — assim chamados porque se reuniam no convento de Saint Jacques — queriam aprofundar a revolução, aumentando os direitos do povo; eram liderados pela pequena burguesia e apoiados pelos sans-culottes, as massas populares de Paris. Ocupavam os assentos superiores no salão das sessões, recebendo o nome de montanha. Seus principais líderes forma Danton, Marat e Robespierre. Sua facção mais radical era representada pelos raivosos, liderados por Hebert, que queriam o povo no poder. Havia ainda um grupo de deputados sem opiniões muito firmes, que votavam na proposta que tinha mais chances de vencer. Eram chamados de planície ou pântano. Havia ainda os cordeliers (camadas mais baixas) e os feuillants (a burguesia financeira).

As modernas designações políticas de direita, centro e esquerda surgem neste momento: com relação à Mesa da Presidência identificavam-se à direita os girondinos, que desejavam consolidar as conquistas burguesas, estancar a revolução e evitar a radicalização; ao centro, a Planície ou Pântano, grupo de burgueses sem posição política definida; e à esquerda, a Montanha, composta pela pequena burguesia jacobina que liderava os sans-culottes, e que defendia o aprofundamento da revolução.

Dirigida inicialmente pelos girondinos, a convenção realizava uma política contraditória: era revolucionára na política externa — ao combater os países absolutistas — mas conservadora na interna — ao procurar se acomodar com a nobreza, tentar salvar a vida do rei e combater os revolucionários mais radicais. Nesse primeiro período, foram descobertos documentos secretos de Luís XVI, no palácio das Tulherias, que provaram seu comprometimento com o rei da Áustria. O fato acelerou as pressões para que o rei fosse julgado como traidor. Na Convenção, a Gironda dividiu-se: alguns optaram por um indulto, outros pela pena de morte. Os jacobinos reforçados pelas manifestações populares, exigiam a execução do rei, indicando o fim da supremacia girondina na Revolução.

República Jacobina

Os jacobinos, com apoio dos sans-culottes e da Comuna de Paris (designação que foi dada ao novo governo local da cidade), assumiram o poder no momento crítico da Revolução.

A Convenção reconheceu a existência do Ser Supremo e da imortalidade da alma. A virtude seria o elemento essencial da República.

Em 21 de janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado na praça da Revolução. Vários países europeus, como a Áustria, Prússia, Holanda, Espanha e Inglaterra, indignados e temendo que o exemplo francês se refletisse em seus territórios, formaram a Primeira Coligação contra a França. Encabeçando a Coligação, a Inglaterra financiava os grandes exércitos continentais para conter a ascensão burguesa da França, seu potencial concorrente nos negócios europeus.

No departamento de Vendéia, no oeste da França, camponeses contra-revolucionários, instigados pela Igreja, pela nobreza e pelos ingleses, tomaram o poder. Os girondinos tentaram frear a proposta de mobilização geral do povo francês, temendo a perda do poder e a radicalização da revolução, que ameaçaria suas propriedades e bens. Em resposta, em 2 de Junho de 1793, a população de Paris, agitada pelos partidários de Hebert, cercou o prédio da convenção, pedindo a prisão dos deputados girondinos. Os membros da Gironda foram expulsos da convenção deixando uma triste herança: inflação, carestia e avanço da contra-revolução, tudo isso agravado pela guerra no plano externo. Marat, Hébert, Danton, Saint-Just e Robespierre assumiram o poder, dando início ao período da Convenção Montanhesa.

A Contra-Revolução Camponesa da Vendéia e a ameaça externa colocavam a revolução à beira do abismo. Para combater essa situação, os jacobinos organizaram os comitês, cujos objetivos eram controlar o governo, combater os contra-revolucionários e mobilizar a França para uma guerra total em defesa da revolução.

Devido ao predomínio da atuação popular, esse período caracterizou-se por ser o mais radical de toda a Revolução. O governo jacobino dirigia o país por meio do Comitê de Salvação Pública, responsável pela administração e defesa externa do país, de início comandado por Danton, seu criador. Abaixo, vinha o Comitê de Salvação Nacional ou de Segurança Geral, que cuidava da segurança interna, e a seguir o Tribunal Revolucionário, que julgava os opositores da revolução em julgamentos sumários.

Decretada a mobilização geral, criou-se uma economia de guerra, com o racionamento das mercadorias e o combate aos especuladores, que, aproveitando-se da situação, escondiam os produtos para aumentar os preços.

Os jornais populares utilizavam-se de linguagem grosseira para caracterizar os aristocratas e inimigos da revolução. Ao mesmo tempo em que pediam que fossem punidos, pregavam as virtudes revolucionárias, o patriotismo e a defesa intransigente da revolução. O mais importante desses jornais era O amigo do povo, dirigido pelo jacobino Marat.

Quando, em julho, Marat foi assassinado pela jovem Charlotte Corday, os ânimos se exaltaram. Considerado excessivamente moderado, Danton foi substituído por Robespierre e expulso do partido. O Comitê de Salvação Pública, liderado por Robespierre, assumiu plenos poderes. Tinha início o Grande Terror, Terror Jacobino ou, simplesmente, Terror. Milhares de pessoas — a ex-rainha Maria Antonieta, aristocratas, clérigos, girondinos, especuladores, inimigos reais ou presumidos da revolução — foram detidas sumariamente e guilhotinadas. Os direitos individuais foram suspensos e, diariamente, realizavam-se, sob aplausos populares, execuções públicas e em massa. O líder jacobino Robespierre, sancionando as execuções sumárias, anunciara que a França não necessitava de juízes, mas de mais guilhotinas. O resultado foi à condenação à morte de 35 mil a 40 mil pessoas. A Insurreição camponesa da Vendéia foi esmagada. O exército francês começou a ganhar terreno nos campos de batalha em 1794 e a coalizão antifrancesa foi derrotada.


Embora utilizassem o terror para combater a contra-revolução, os jacobinos não foram os sanguinários que muitos conservadores pintam. Eles cometeram muitos erros, provavelmente muitas injustiças em seus julgamentos sumários, mas defendiam a revolução, aprofundaram a democracia e realizaram muitas reformas sociais para obter o apoio das camadas populares. As principais realizações desse período foram:

Abolição da escravidão nas colônias francesas, talvez o maior feito social dos jacobinos. Os girondinos, embora falassem em igualdade de todos perante a lei, haviam mantido os escravos nas colônias da França, pois muitos deles eram proprietários de engenhos escravistas nas colônias. Os jacobinos, por não terem interesses nesses engenhos, realizaram plenamente os ideais iluministas de dignidade humana e de igualdade de todos perante a lei, ao abolir a escravidão;
Reforma Agrária: confisco das terras da nobreza emigrada e da Igreja, que foram divididas em lotes menores e vendidas a baixo preço aos camponeses pobres. Os pagamentos foram divididos em 10 anos;
Lei do Máximo ou Lei do Preço Máximo, estabelecendo um teto máximo para preços e salários;
Venda de bens públicos e dos emigrados para recompor as finanças públicas;
Entrega de pensões anuais e assistência médica gratuita a crianças, velhos, enfermos, mães e viúvas;
Auxílio aos indigentes, que participaram da distribuição dos bens dos condenados;
Desenvolvimento de um culto revolucionário fundado na razão e na liberdade. A Catedral de Notre Dame (Paris), por exemplo, foi transformada no "templo da razão";
Proclamação da Primeira República Francesa (setembro de 1792);
Organização de um exército revolucionário e popular que liquidou com a ameaça externa;
Organização dos seguintes comitês: o Comitê de Salvação Pública, formado por nove membros e encarregado do poder executivo, e o Comitê de Salvação Nacional ou de Segurança Geral, encarregado de descobrir os suspeitos de traição;
Criação do Tribunal Revolucionário, que julgava os opositores da Revolução;
Elaboração da Constituição do Ano I (1793), que pregava uma ampla liberdade política e o sufrágio universal masculino. Essa Carta, inspirada nas idéias de Rousseau, era uma das mais democráticas da história;
Elaboração de uma outra Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita por Robespierre, em que se afirmava que a finalidade da sociedade era o bem comum e que os governos só existem para garantir ao homem seus direitos naturais: a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade;
Criação do ensino público gratuito;
Fundação do Museu do Louvre, da Escola Politécnica e do Instituto da França;

Instituição de um novo calendário, para romper com o passado e simbolizar o início de uma nova era na história da humanidade. Este calendário tinha características marcadamente anticlericais e passou a basear-se nos fenômenos da natureza. Cada mês recebeu uma denominação baseada nas características da natureza, e o primeiro dia dessa nova era — 22 de Setembro de 1792 — foi à data da proclamação da república. O primeiro mês chamava-se vindário (em referência a Víndima ou colheita de uvas), seguiam-se o brumário (relativo à bruma ou nevoeiro), o frimário (Mês das geadas ou frimas em francês), o nivoso (referente à neve), o pluvioso (chuvoso), o ventoso, o germinal (relativo à germinação das sementes), o floreal (mês das flores), o pradial (em referência a prados), o messiador (nome originário de messis, palavra latina que significa colheita), o termidor (referente ao calor) e o frutidor (relativo aos frutos). Como cada mês tinha trinta dias, sobravam cinco dias no final do ano (de 17 a 21 de setembro): eram os dias dos sans-culottes, considerados feriados nacionais.
Cansada do terror, execuções, congelamento de preços e dos excessos revolucionários, a burguesia queria paz para seus negócios. Essa posição era defendida pelos jacobinos liderados por Danton. Os sans-culottes — que eram a plebe urbana — pretendiam radicalizar mais a revolução, posição defendida pelos raivosos. A falta de habilidade política de Robespierre ficou evidente quando, declarando a "pátria em perigo", tomou uma série de medidas impopulares para evitar as radicalizações — os partidários e políticos mais radicais, como a ala esquerda, dos partidários de Herbert, e da ala direita, que tinha como líder Danton, foram executados. A facção de centro, liderada por Robespierre e Saint-Just, triunfou, porém ficou isolada. Esse é o mal de quase todas as revoluções ocorridas até hoje: começam executando os inimigos e acabam executando os revolucionários, sina da quais os incorruptíveis e bem-intencionados jacobinos não conseguiram escapar.

Reação Termidoriana

Muitos girondinos que haviam sobrevivido ao terror, aliados aos deputados da planície, articularam um golpe. Em 27 de Julho (9 Termidor, de acordo com o calendário revolucionário francês) a Convenção, numa rápida manobra, derrubou Robespierre e seus partidários. Robespierre apelou para que as massas populares saíssem em sua defesa. Mas os que podiam mobilizá-las — como os raivosos — estavam mortos, e os sans-culottes não atenderam ao chamado. Robespierre e os líderes jacobinos foram guilhotinados sumariamente. A Comuna de Paris e o partido jacobino deixaram de existir. Era o golpe de 9 Termidor, que marcou a queda da pequena burguesia jacobina e a volta da grande burguesia girondina ao poder. O movimento popular entrou em franca decadência.

A Convenção Termidoriana (1794-1795) foi curta, mas permitiram a reativação do projeto político burguês, com a anulação de várias decisões montanhesas, como a Lei do Preço Máximo (congelamento da economia) e o encerramento da supremacia do Comitê de Salvação Pública. Foram extinguidas as prisões arbitrárias e os julgamentos sumários. Todos os clubes políticos foram dissolvidos e os jacobinos passaram a ser perseguidos.

Em 1795, a Convenção elaborou uma nova constituição - a Constituição do Ano III -, suprimindo o sufrágio universal e resgatando o voto censitário para as eleições legislativas, marginalizando, assim, grande parcela da população. A carta reservava o poder à burguesia. No final de 1795, de acordo com a nova Constituição, a Convenção cedeu lugar ao Diretório, formado por cinco membros eleitos pelos deputados. Iniciou-se, assim, a República do Diretório.

O Directório (1795-1799)
O Diretório (1794 a 1799) foi uma fase conservadora, marcada pelo retorno da Alta Burguesia ao poder e pelo aumento do prestígio do Exército apoiado nas vitórias obtidas nas Campanhas externas.

Uma nova constituição entregou o Poder Executivo ao Diretório, uma comissão constituída de cinco diretores eleitos por cinco anos. Esta carta prevê o direito de voto masculino aos alfabetizados. O poder legislativo era exercido por duas câmaras, o Conselho dos Anciãos e o Conselho dos Quinhentos.

Era a república dos proprietários, que tiveram de enfrentar uma grave crise financeira. Registra-se uma oposição interna ao governo, devido à crise econômica e à anulação das conquistas sociais jacobinas. O governo teve de enfrentar tentativas de golpes à direita (monarquistas ou realistas) e à esquerda (jacobinos).

As ações contra o novo governo se sucediam. Em 1795, um golpe realista foi abortado em Paris. Aproveitando o descontentamento dos sans-culottes, os remanescentes jacobinos tentaram organizar em 1796 a chamada Conjuração ou Conspiração dos Iguais, liderada por François Noël Babeuf (mais conhecido como Graco Babeuf). Os seguidores desse movimento popular, com algumas pinceladas socialistas, desejavam não apenas igualdades de direitos (igualdade perante a lei), mas também igualdade nas condições de vida. Babeuf achava que a única maneira de alcançar a igualdade era com a abolição da propriedade privada. A insurreição foi denunciada antes mesmo de se iniciar e seus líderes, Graco Babeuf e Buonarroti, foram condenados à guilhotina. As idéias de Babeuf, entretanto, serviram de base para a luta da classe operária no século XIX.

Externamente, entretanto, o exército acumulava vitórias contra as forças absolutistas de Espanha, Holanda, Prússia e reinos da Itália, que, em 1799, formaram a Segunda Coligação contra a França revolucionária.

Napoleão Bonaparte no Poder

O governo não era respeitado pelas outras camadas sociais. Os burgueses mais lúcidos e influentes perceberam que com o Diretório não teriam condição de resistir aos inimigos externos e internos e manter o poder. Eles acreditavam na necessidade de uma ditadura militar, uma espada salvadora, para manter a ordem, a paz, o poder e os lucros.

A figura que sobressai ao final do período é a de Napoleão Bonaparte. Ele era o general francês mais popular e famoso da época. Quando estourou a revolução, era apenas um simples tenente e, como os oficiais oriundos da nobreza abandonaram ou foram demitidos do exército revolucionário, fez uma carreira rápida. Aos 24 anos já era general de brigada. Após um breve período de entusiasmo pelos jacobinos, chegando inclusive a ser amigo dos familiares de Robespierre, afastou-se deles quando estavam sendo depostos. Lutou na Revolução contra os países absolutistas que invadiram a França e foi responsável pelo sufocamento do golpe de 1795.

Enviado ao Egito para tentar interferir nos negócios do império inglês, o exército de Napoleão foi cercado pela marinha britânica nesse país, então sobre tutela inglesa. Napoleão abandonou seus soldados e, com alguns generais fiéis, retornou à França, onde, com apoio de dois diretores e de toda grande burguesia, suprimiu o Diretório e instaurou o Consulado, dando início ao período napoleônico em 18 de brumário (10 de Novembro de 1799).

O Consulado era representado por três elementos: Napoleão, o abade Sieyès e Roger Ducos. Na realidade o poder concentrou-se nas mãos de Napoleão, que ajudou a consolidar as conquistas burguesas da Revolução.

Datas e Fatos Essenciais
1787: Revolta dos Notáveis
1789: Revolta do Terceiro Estado; 14 de julho: Tomada da Bastilha; 26 de agosto: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
1790: Confisco dos bens do Clero.
1791: Constituição que estabeleceu a Monarquia Constitucional.
1791: Tentativa de fuga e prisão do rei Luís XVI.
1792: Invasão da França pela Áustria e Prússia.
1793: Oficialização da República e morte do Rei Luís XVI; 2ª Constituição.
1793: Terror contra os inimigos da revolução.
1794: Deposição de Robespierre.
1795: Regime do Diretório — 3ª Constituição.
1799: Golpe do 18 de brumário (9 de novembro) de Napoleão.
Rea(c)ções e comentários no estrangeiro
Reino Unido
Entre os britânicos que acolheram (inicialmente) a Revolução Francesa como um acontecimento positivo conta-se Dugald Stewart. Stewart seguiu os acontecimentos em Paris nesse verão dramático de 1789. Ele acreditava nos princípios pelos quais a revolução se batia. Sentiu-se repelido quando leu os comentários de Edmund Burke no seu "Reflections on the Revolution in France". Burke previu acertadamente que a Revolução Francesa acabaria na perdição, terror, morte e ditadura. Um aluno de Stewart, James Mackintosh, escreveu em resposta uma apaixonada defesa da causa francesa. Nos anos seguintes, Stewart defendeu ainda a Revolução, apesar de o terror e o caos serem evidentes. Em Novembro de 1791, Dugald Stewart escreve a um amigo: "As pequenas desordens que podem ocorrer num país onde as coisas em geral correm tão bem são de menor importância".

Já no ano seguinte ver-se-ia que Burke tinha razão. Edmund Burke faleceu em 1797, convicto de que a Revolução Francesa acabaria por terminar na ditadura. Napoleão veio dar-lhe razão. Burke ganhou na sociedade britânica uma reputação de um homem clarividente e perspicaz.

Em forte contraste, Dugald Stewart perdeu o respeito dos seus concidadãos e foi ostracizado em Edimburgo, onde vivia. James Mackintosh pediu desculpas publicamente por criticar Burke e tornou-se um forte crítico do regime francês e das revoluções em geral.

Raymond Aron
O sociólogo do século XX Raymond Aron escreve em O ópio dos intelectuais o seguinte a propósito da revolução francesa, comparando-a com a evolução da Inglaterra:

A passagem do Ancien Régime para a sociedade moderna é consumada na França com uma ruptura e uma brutalidade únicas. Do outro lado do Canal da Mancha, na Inglaterra, o regime constitucional foi instaurado progressivamente, as instituições representativas advêm do parlamento, cujas origens remontam aos costumes medievais. No século XVIII e XIX, a legitimidade democrática se substitui à legitimidade monárquica sem a eliminar totalmente, a igualdade dos cidadãos apagou pouco a pouco a distinção dos "Estados" (Nobreza, clero e povo). As idéias que a revolução francesa lança em tempestade através da Europa: soberania do povo, exercício da autoridade conforme a regras, assembléias eleitas e soberanas, supressão de diferenças de estatutos pessoais, foram realizadas em Inglaterra, por vezes mais cedo do que em França, sem que o povo, em sobressalto de Prometeu, sacudisse as suas correntes. A "democratização" foi ali (em Inglaterra) a obra de partidos rivais.
(...) O Ancien Régime desmoronou-se (em França) de um só golpe, sem quase se defender, e a França precisou de um século para encontrar outro regime que fosse aceito pela grande maioria da nação.